02/12/2011

PRATA


Se o acto de lançar uma revista num período em que o tema da crise e o receio do que “ainda está para vir” é já por si um acto de coragem e determinação, então lançar uma revista de fotografia revela-se um acto de dupla coragem. Porém ao vermos a qualidade dos trabalhos que compõe o primeiro número desta revista (substituí conscientemente o termo revista por publicação — o conceito de revista na maior parte dos casos implica compromissos comerciais que neste caso são felizmente inexistentes) não temos qualquer dúvida da qualidade da pertinência e relevância desta publicação. De que outro modo ficaríamos a conhecer excelente trabalho do Filipe Martins, do Daniel Pires, do Ricardo Passaporte e da Sara Reis? Poderia neste editorial falar do tempo suspenso sublimemente capturado nos rostos dos jovens fotografados pelo Filipe Martins ( e muito havia para dizer por exemplo do magistral jogo de cores da imagem da jovem de camisola amarela encostada a um sofá vermelho?); da cor das imagens e da impressão de tempo nas fotografias do Daniel Pires, num excelente editorial de “moda” e de recriação de memória , um jogo de revisitação de espaços e de memória que na fotografia encontram um meio privilegiado de construção narrativa.
E o que dizer das polaroids do Ricardo Passaporte? Que universo tão pessoal é este? O que se passa nos grupos de imagens nº 4, 5 e 7? Que imagens tão misteriosas são estas? Poderia tentar arriscar uma explicação ou uma teoria mas o fascínio destas mesmas imagens reside nesse mesmo mistério, nesse universo pessoal e onírico onde as coisas dispensam uma legenda ou sequer uma explicação fácil.
E a pose e as marcas da vida no rosto das pessoas fotografadas pela Sara Reis? Temos de lhe agradecer o privilégio de um vislumbre neste universo tão característico como é o do Circo. Ao olharmos para os retratos perguntamo-nos quem são aquelas pessoas? Quais são as suas “habilidades”? Encontrei neste trabalho um particular fascínio pela pessoa que aparece na fotografia nº 4 com a sua farda de circo (talvez na bilheteira?) e mais tarde na fotografia nº 8 aí já transfigurado como Homem-Aranha, numa estranha fusão de universo, entre o real e a ficção. Talvez seja nesta capacidade de multiplicidade de habilidades e competências que encontramos a razão para a ténue sobrevivência da prática circense.
Muito mais haveria para dizer aqui sobre todos estes trabalhos mas penso que por vezes as palavras são escassas para descrever todo o mistério da fotografia e se as imagens valem mais do que mil palavras, as imagens que se seguem valem bem mais do que isso. Não falemos mais de crise e apoiemos a criatividade e vitalidade da fotografia destes jovens autores.

Carlos Lobo
Guimarães, 30 de Novembro 2011






É sempre fantástico receber mails de novos projectos portugueses - ainda mais com este potencial.
Deixo-vos esta bela proposta de leitura para o fim de semana que está a começar. Lembrem-se que os artigos do número zero estão a ser acrescentados aos poucos, por isso o novo site merece uma visita obrigatória todos os dias!

Lembrem-se que esta rapaziada está sempre à procura de novos talentos, ou pelo menos de receber cartas de amor no inbox!
Quem não der like no Facebook, cheira a cão molhado.

Revista Prata.
Facebook.
Inscrição na Newsletter.